quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Na minha rua....

Na minha rua… no meu bairro… tudo era diferente dos dias de hoje… jogávamos á bola, ao ringue, ao elástico…
Na minha rua jogava-se às escondidas, ao toque e foge, atiravam-se ovos aos carros no Carnaval, e o tempo que tínhamos que esperar que passasse algum carro…

Subíamos às arvores, formávamos clubes “disto” daquilo”, na minha rua… que saudades, que saudades de podermos andar à noite e conversar pela noite dentro, depois de um jogo de cartas…é... na minha rua pedia-se salsa ao vizinho do lado, ou sal, ou uma medida de arroz. Todas as portas estavam abertas e as casas de todos, eram nossas… todos se conheciam, éramos filhos deste, daquele, de sicrano…podíamos andar de bicicleta à vez (pois eram poucas e só alguns é que tinham), partíamos a cabeça, por vezes uma perna…, pois as bicicletas nem sempre tinham travões e o que as faziam parar eram os nossos pés….

Havia quem chama-se a”bófia”, pois não se podia jogar na rua e nós lá fugíamos que nem gazelas…

Sonhávamos… éramos crianças de “rua”, onde os brinquedos eram feitos por nós, onde as árvores se tornavam em escaladas… enormes, onde para nós só havia um objectivo… brincar, sorrir e viver o dia-a-dia com tempo, havia tempo não se ouvia dizer “não tenho tempo” tudo passava devagarinho, onde os sonhos, eram podermos brincar, e esses sonhos concretizavam-se, não eram utopia, nem fantasiávamos, nem queríamos coisas de comprar… até que nem havia dinheiro.

Eram apenas sonhos de bolas de sabões verdadeiros com o cheiro da roupa a serem lavadas nos tanques, onde se ouvia gritar…-Quem quer figos? Quem quer almoçar…” ou a peixeira com a cesta cheia de janquizinhos, e no fim do verão lá se ouvia o apito do homem que afiava as facas e arranjava os chapéus de chuva…

Meu Deus que cheiro, que brisas… que boas são as recordações da minha rua… do meu bairro dos Amigos, que são ainda hoje sãoAmigos!!!

Na minha rua…é… que saudades daqueles sítios que nos pareciam tão grandes e hoje se tornaram tão pequenos e cheios de carros, e de tanta falta de tempo….

É bom ter estas memórias, memórias de uma rua de um bairro de uma cidade… e que memórias…
CM

6 comentários:

mena maya disse...

Querida Cristina,


É MESMO BOM!!!!!

Fizeste-me lembrar a minha irmã Antónia e eu a tirarmos bocados do alcatrão da rua derretido pelo calor, com um pau, para podermos "colar" pedras do passeio nos saltos dos sapatos e assim andarmos de "altos-altos" como ela dizia...

De vez em quando também faço uma caça ao tesouro destas memórias...

Um beijo grande!

Anónimo disse...

e eu lembro-me de me esconder na sebe que separava o quintal da rua, na frente da casa, e com um tubinho atirar arroz ou para as pernas de quem passava.

Normalmente era para as pernas das mulheres que não usavam calças nesses tempos

bjs

tátá

mena maya disse...

Irmã é melhor não contar o cheirinho a primavera na casa dos vizinhos , não achas???

Verinha disse...

Tão bom ler o seu texto!
Fugindo à descrição divaga... sinal de tempo.
Acho que me vou dedicar mais ao blog, com tempo, para ter tanto gozo como a Cristina.
Parabens!

1Beijo

Cristina disse...

É! Tantas memórias boas....
Tantas partidas feitas, tantas asneiras concretizadas... que bom... que sorte!
Tantos açoiteis bem dados... tantos que nos safamos de apanhar...
Que divertido era... sem preocupações, sem presas... tudo corria, enfim hoje temos outros momentos, outras travessuras...
Também seguramente bons momentos, mas aquele que nos fazem recuar ao tempo de criança são mágicos...
CM

Verinha disse...

Saudosa!